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Conto: A Dama de Negro - Gisele G. Garcia


O castelo ficava em meio a um imponente jardim impecavelmente cuidado e trabalhado fechado por imensos muros de pedra bruta, escondido por um enorme portão de ferro enobrecido com um brasão com o emblema da família O’Hara. Um clã respeitado no passado, esquecido pelo tempo e amaldiçoado por um jovem injustiçado.
Dana estava de mudança para o castelo. Começou a sentir um terrível mal estar ao passar pelo largo caminho de pedras ladeado por estátuas de anjos que pareciam segui-la com o olhar. Foi recepcionada por um velho mordomo, que morava lá desde sempre. O homem de pele enrugada e rosto macilento recebeu-a de maneira seca e fria, como se não a quisesse por lá.
A jovem meio que caiu de pára-quedas no castelo da família, quando completou dezoito anos recebeu a moradia como herança do avô que, por sinal, não fazia muita questão de morar lá, afinal de contas ele mesmo nunca colocou os pés dentro no castelo.

Cordialmente e sem falar quase nenhuma palavra o mordomo a levou para o seu aposento. Dana ficou com um quarto pequeno em relação aos outros, todo decorado em carmim incluindo as paredes de um bordô forte. Sentiu como se as paredes estivessem se fechando contra ela.
Conforme a tarde caía um forte nevoeiro ia formando-se substituindo o verdejante jardim por um pálido assustador. Antes de deitar-se Dana foi até a sacada e, não muito distante avistou um homem de vestes antigas andando em direção a uma grossa corda amarrada em forma de laço que pendia de lugar nenhum. Ela ficou paralisada com a cena que em segundos evaporara em meio à névoa. Logo em seguida viu uma mulher de longos cabelos negros, rosto sem expressão, trajando um longo e esvoaçante vestido também negro, aproximando-se lentamente do castelo. A voz de Dana sumira, não conseguia sequer se mexer. A mulher lançou-lhe um olhar gélido, trazendo na mente da herdeira coisas que o tempo apagara. Ela desapareceu e Dana sentiu uma força puxando seu corpo para trás, a partir daquele momento sua vida seria vivida como um filme sendo rebobinado.

***
Na noite seguinte não teve coragem de se aproximar novamente da sacada. Olhou-se no espelho, de corpo inteiro, que havia próximo à janela e o que viu não foi o seu reflexo, mas sim um velho com pompas de rei, usando uma linda coroa cravejada de pedras preciosas, deitado num caixão todo acolchoado de branco. Dana passou a mão pelo próprio rosto tentando entender o que aquilo significava, ela parecia identificar-se com aquela figura e ao mesmo tempo sentia-se muito distante dela. Saiu desnorteada do quarto, atravessou o longo corredor e deparou-se com uma tela de tamanho real com o retrato do homem do espelho. O velho mordomo passava pelo local quando foi parado por Dana, perguntado sobre quem era aquele homem ele responde que se tratava de Brian O'Hara, antepassado distante da jovem. De acordo com o mordomo, ele foi um governante tirano que mandou para a forca um jovem acusado de roubo, sem ao menos saber se ele era realmente culpado. Antes de ser morto o jovem lançou sobre o reino uma maldição, em todas as noites que marcassem a data de sua execução, a morte viria pessoalmente buscar algum inocente dentro da família O'Hara e assim seria por todas as gerações. O mordomo informou também que a data da execução se aproximava e a Dama de Negro, como foi descrita por muitos que a viram, viria buscar mais uma alma inocente. Dana sentiu um frio percorrer-lhe a espinha, afinal ela era a única O’Hara dentro do castelo. Agradeceu ao mordomo pelas informações e voltou para o quarto, um local e uma parte da história que ele esquecera, ou talvez não fizesse questão nenhuma de mencionar.

***
Quando o relógio bateu vinte e uma horas, a janela da sacada do quarto de Dana abriu bruscamente e a neblina densa e fria foi tomando conta do quarto. Dana ficou quase que em estado de choque, não sabia o que fazer foi andando para trás tateando o ar, mas a porta do quarto bateu de maneira violenta seguida pelo som da fechadura sendo trancada. Dana olhou para o espelho e mais uma vez não foi o próprio reflexo que viu, no espelho estava o reflexo de Brian O'Hara, parado em pé no meio do quarto enevoado olhando na mesma posição que a herdeira e para ela. A Dama de Negro aos poucos foi surgindo em meio à neblina trazendo consigo muitas almas atordoadas de um clã arruinado por uma maldição. A mulher se aproximou da herdeira e pronunciou algo que soou bastante confuso para a jovem.
- Aqui estou mais uma vez, meu ilustre rei.
Os olhos dela encheram-se de pavor, quando ao olhar para o espelho viu Brian se transformando em Dana com o jovem, que morrera enforcado por determinação sua, bem ao seu lado segurando uma forca nas mãos. Dana começou a sentir o ar faltar-lhe, levou em desespero as mãos até o pescoço tentando respirar, sentiu algo lhe apertando a garganta com uma força descomunal. Aos poucos perdeu os sentidos e seu corpo sem vida foi arremessado ao chão, a mulher que trajava luto aproximou-se do corpo de Dana puxando para si o espírito da jovem O'Hara. Espírito esse que aos poucos foi transformando-se num homem em idade avançada, com vestes antigas e coroa dourada, a Dama de Negro sumiu em meio à neblina levando consigo suas almas e um rei injusto.
Era a segunda vez que aquela cena se repetia, o quarto em que Dana ficara fora palco de inúmeras visitas da Dama de Negro, dentre elas a esposa do rei que morreu enquanto dormia, foi encontrada pela manhã com uma marca roxa em torno do pescoço. A filha mais nova que foi achada dependurada por um lençol no meio do quarto. E o rei que durante um sonho foi vítima de sua própria injustiça, enquanto o carrasco puxava a alavanca e abria o alçapão, o jovem inocente se aproximava dele acompanhado por uma mulher de vestido preto e rosto pálido. Nas primeiras horas do dia Brian foi encontrado em sua cama, com os olhos arregalados, as mãos postas sobre o corpo e com uma marca roxa em volta do pescoço.
A maldição finalmente quebrara-se, Brian foi para o submundo com uma passagem só de ida sem uma terceira chance.
 
 

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